terça-feira, 5 de setembro de 2006

Artigo de Pilar Rahola


Contra Israel se vive melhor

O escritor e bom amigo Horacio Vázquez Rial publicou um artigo onde assegurava que, se neste país houvesse uma imprensa normal, as manchetes seriam "Irã atacou Israel", em referência à escalada bélica na região. Em linha parecida, Hermann Tertsch expressou sua perplexidade ante a facilidade com que Israel é criminalizado, automaticamente, apesar dos fatos, das razões ou dos dados. Pessoalmente, tenho falado em múltiplos fóruns do maniqueísmo com que se tratam as questões árabe-israelenses, até o ponto de que gente inteligente se converte, quando fala deste conflito, em paradigma do prejuízo, da mentira e da tangiversação. Contra Israel, alguns vivem melhor, e são tantos que me pareceu interessante fazer uma reflexão sobre o fenômeno.


Entretanto (como não?) começo pelo mais importante.
A situação atual é terrível ("uma autêntica merda", dito em expressão buschiana), é dolorosa para todos e é um dos maus caminhos dos muitos maus caminhos que Israel podia empreender. Porém, e a pergunta não é menos importante: teria Israel algum caminho bom para seguir? "A paz é o caminho", diz a bem intencionada citação, mas durante décadas o mundo árabe em conjunto, o palestino e o integrismo islâmico em particular, tem se dedicado a bombardeá-la, tem apagado seus traços e o tem feito desaparecer. Desde os famosos três NÃO do mundo árabe reunido en Khartum, depois da Guerra dos Seis Dias - NÃO ao reconhecimento, NÃO às negociações e NÃO à paz com Israel - muito pouca coisa tem mudado. Somente Jordânia e Egito estabeleceram tímidas relações diplomáticas com Israel, conseguindo o que poderíamos chamar de uma precária, porém sólida, paz.

Mas o resto dos países, economicamente fortes, militarmente capazes e demograficamente poderosos, seguem a financiar logísticas terroristas, alimentando a resistência vitimista e negando toda possibilidade de diálogo. O Irã é, neste contexto, o país mais visível, com milhões de dólares dedicados, anualmente, a financiar a loucura integrista do Hamás e o armamento do Hezbollah. Porém não é o único, e Israel, militarmente poderoso, mas no momento enormemente frágil e vulnerável, tem sido submetido, durante décadas, a uma guerra latente, com terrorismo incluído, na qual participavam alegremente e impunemente diversos países membros da ONU. Não importava qual fora a atitude de Israel, desde os Acordos de Oslo, até Camp David, desde os esforços de Rabin aos de Barak, passando pela desconexão de Gaza de Sharon ou o truncado Mapa do Caminho. Fizessem o que fizessem, mandassem falcões ou pombas, o único objetivo da imensa maioria dos países implicados era fazer desaparecer Israel. Com dinheiro, com publicidade, com esforço político e diplomático, com armas, com logística, com propaganda. Décadas e décadas construindo a guerra. Décadas e décadas desmontando toda opção de paz.Que outro país teria agüentado? A última escalada é a crônica de uma guerra anunciada e largamente preparada. Uma guerra que, não esqueçamos, foi declarada com um Hamás no governo, que constrói um túnel desde Gaza, ataca uma base militar em solo israelense, mata soldados e seqüestra um deles. E, no norte, grupos terroristas do Hezbollah, também membros do governo libanês, atacam uma base militar, matam soldados e seqüestram mais dois.

Alegria, sobretudo se vivemos na Europa, estamos tomando sol e somos geneticamente anti-semitas, por mais que tenhamos feito do politicamente correto um disfarce útil. Como dizia Tertsch, inclusive quando os fatos são inequívocos e assinalam claramente a Israel como país agredido, em nosso país o convertemos automaticamente em culpado. É assim que, de acordo com o título deste artigo, muitos são os que contra Israel vivem melhor.O primeiro que vive melhor é Kofi Annan, que cada vez que move sua atenção contra Israel, vê subir sua liderança entre as dezenas de ditaduras que compõem a Assembléia Geral da ONU. Além disso, e não menos importante, contra Israel reforça seu mais que deteriorado prestígio. Contra Israel vive melhor a todo poderosa França, que assim reforça seus múltiplos interesses econômicos com os árabes (ou alguém acreditou alguma vez que a França era uma irmã de caridade?), e de passagem tranqüiliza seus conflitivos imigrantes. Contra Israel, desde os dias gloriosos da gloriosa maldade soviética, tem vivido melhor a Rússia, e contra Israel, logicamente, vivem melhor todas as ditaduras do petrodólar, que reforçando o discurso anti-semita, criam um bode espiatório que distrai seus povos da miserável vida à qual foram condenados. Por conseguinte, o judeu malvado ajuda a camuflar os problemas internos, a falta de liberdade, a loucura integrista e a falta de esperança das sociedades nas quais vivem.Contra Israel vive melhor a tirania síria, e contra Israel, Irã encontra sua desculpa para manter o islamofascismo que cultiva. Porém, sobretudo, quem melhor vive contra Israel é uma esquerda caduca, em cujo DNA encontramos os rastros de um anti-ocidentalismo patológico. Uma esquerda que perdeu suas utopias, utopias que ela mesma traiu e que, em sua ingenuidade, crê poder recuperar uma parte da mística perdida com qualquer agasalho pan-arabista que ponha. Vejam vocês esse prodígio de "diplomacia internacional" que se chama Zapatero! Uma esquerda, enfim, que não suporta um padre católico, mas que alucina e se enamora por qualquer mullah islâmico que chame à jihad.

De Marujas Torres: "O paraíso da equerda está cheio. A lástima é que é um paraíso que, para a liberdade, resulta um inferno".

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