
O cenário de Idade Média não era uma prerrogativa afegã. Trata-se de uma avenida permanentemente aberta aos regimes islâmicos que desejem interpretar os ensinamentos do Corão a ferro e fogo. A isso se dá o nome de fundamentalismo. Há países de islamismo mais flexível, como o Egito, e outros de um rigor extremo, como a Arábia Saudita. Para o pensamento ortodoxo muçulmano, a mulher vale menos do que o homem, explica Leila Ahmed, especialista em estudos da mulher e do Oriente Próximo da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos. "Um 'infiel' pode se converter e se livrar da inferioridade que o separa dos 'fiéis'. Já a inferioridade da mulher é imutável", escreveu Leila num ensaio sobre o tema, em 1992.
A circuncisão da mulher não é mencionada no Alcorão e não é obrigatória. A circuncisão ainda é usada até hoje no norte da África. Essa mutilação tem a seguinte explicação: a mulher tem apenas o papel de reprodutora, assim sendo, é considerado pecado ela sentir prazer na relação sexual.
Por trás dessa situação há uma ironia trágica. A exclusão feminina não está presente nas fundações do islamismo, mas apenas no edifício que se erigiu sobre elas. O Corão, livro sagrado dos muçulmanos, contém versículos dedicados a deixar claro que, aos olhos de Alá, homens e mulheres são iguais.
Então, quais são as explicações para a opressão das mulheres no Islã?
Os muçulmanos, ao longo dos séculos, assimilaram a prática de formar haréns com os mecanismos de repressão feminina, que eram uma característica marcante daqueles povos. Um dado complicador é que as muçulmanas têm, até hoje, um conhecimento muito vago da lei divina. Aderem ao fundamentalismo atraídas pelos ideais de pureza da religião e, quando ele é instaurado, são surpreendidas por seus rigores - a exemplo do que ocorreu no Irã dos aiatolás.
Se a democracia chegou para as mulheres que vivem sob a égide da civilização judaico-cristã, não há por que ela não possa ser almejada pelas muçulmanas que se orgulham de sua religião.
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