A chanceler alemã, Angela Merkel, pediu nesta terça-feira ao papa Bento 16 para "deixar bem claro" que rejeita a negação do Holocausto, depois da reabilitação do bispo Richard Williamson, excomungado nos anos 80 por outro motivo. Em uma entrevista, o bispo questionou a dimensão do extermínio de judeus. O gesto de aproximação com o grupo conservador foi nublado pela divulgação de uma entrevista concedida por Williamson a uma TV sueca, na qual ele colocou em dúvida o Holocausto. "Acredito que não existiram câmaras de gás e [apenas] entre 200 mil e 300 mil judeus sofreram nos campos de concentração", disse Williamson.
Para Merkel, que é protestante, os esclarecimentos do Vaticano são insuficientes. A chanceler fez as declarações depois que a crítica ao papa alemão ganhou destaque pela primeira vez na imprensa do país, que no início do papado não escondeu o orgulho pela eleição do então cardeal Joseph Ratzinger ao comando da Igreja Católica. Cerca de 34% dos alemães declaram-se católicos, e 34%, protestantes.
O jornal "Bild", o mais vendido da Alemanha, publicou em sua primeira página nesta terça-feira: "Críticas ao papa pelo mundo". Em um país que convive com a memória do massacre dos judeus, a nacionalidade do papa é uma questão central na polêmica. "O papa cometeu um erro grave. O fato de ser um papa alemão torna a questão especialmente ruim", afirma o editorial do "Bild". Na Alemanha, é crime negar a existência do Holocausto.