A velha briga para determinar o que é fato e o que é lenda nos textos bíblicos acaba de passar por mais uma reviravolta - e quem saiu ganhando foi o reino de Salomão, filho do rei Davi, que teria governado os israelitas há 3.000 anos. Escavações na Jordânia sugerem que a extração de cobre em escala industrial no antigo reino de Edom - região que, segundo a Bíblia, teria sido vassala dos reis de Israel - coincide, em seu auge, com a época do reinado de Salomão. Em outras palavras: as célebres "minas do rei Salomão" podem ter existido do outro lado do rio Jordão.
A pesquisa, coordenada pelo arqueólogo Thomas E. Levy, da Universidade da Califórnia em San Diego, e publicada na edição desta semana da revista científica americana "PNAS", bate de frente com os que duvidam da existência de uma monarquia poderosa em Jerusalém durante o século 10 antes da Era Comum, como o pesquisador Israel Finkelstein, da Universidade de Tel-Aviv. Para ele, tanto a região de Jerusalém quanto a área de Edom, onde as minas foram encontradas, eram habitadas por uns poucos aldeões e pastores nômades nessa época. O surgimento de reinos politicamente bem organizados e capazes de empreendimentos de larga escala só teria sido possível por ali cerca de 200 anos depois. "Aceitar literalmente a descrição bíblica do rei Salomão equivale a ignorar dois séculos de pesquisa bíblica. Embora possa existir algum fundo histórico nesse material, grande parte dele reflete a ideologia e a teologia da época em que saiu da tradição oral e foi escrito, por volta dos séculos 8 e 7 antes da Era Comum", contesta Finkelstein.